Você é um aventureiro, em um mundo fantasioso povoado por anões. O destino de seu futuro reside apenas em suas mãos, e não há nada lhe indicando o que fazer. Para entender melhor o mundo ao seu redor, é melhor explorá-lo. Este, entretanto, não é sequer a ponta do iceberg em Dwarf Fortress.
Segundo a página oficial do jogo, “O objetivo a longo prazo é criar um simulador de mundo de fantasia no qual seja possível participar de uma história rica, ocupando uma variedade de papéis ao longo de vários jogos.”
É difícil colocar em poucas palavras o principal objetivo do jogo, dado o fato de que é possível realizar diversas atividades dentro dele. Seja explorando o mundo, seja comandando um grupo de anões, o jogo é conhecido por três elementos marcantes: sua jogabilidade roguelike, tão influente quanto o próprio Rogue, os gráficos em ASCII, que separam os meninos dos homens, e a frase proferida pelos fãs do jogo: PERDER É DIVERTIDO!
O JOGO DE UM DEV SÓ
Dwarf Fortress foi originalmente desenvolvido por apenas por Tarn Adams (à direita) e contou com a participação do seu irmão Zach (à esquerda)
O jogo possui um caminho diferente dos demais, uma vez que é tido como o grande projeto de apenas uma mente: Tarn Adams, que desenvolve o jogo desde 2002. Seu irmão, por muitos anos, auxiliou na criação do folclore do jogo, elaborando algumas das histórias nas quais o jogo se baseia.
Foram mais de 700 mil linhas de código escritas durante meio período entre 2002 e 2006, quando o desenvolvedor passou a se dedicar inteiramente ao jogo. O jogo sempre foi desenvolvido com o visual ASCII em mente, e isso apenas mudou quando o desenvolvedor passou a se interessar pela publicação do jogo na Steam.
O lançamento do jogo na Steam está longe de ser uma longa ambição, entretanto. A única razão para este jogo ser disponibilizado na plataforma, uma vez que seu download é gratuito, foi única e simplesmente para que a renda extra pudesse pagar algumas despesas da família Adams, que se encontrava em dificuldades financeiras.
Felizmente, graças ao apoio de seus fãs e ao lançamento bem-sucedido do jogo na plataforma, o jogo conta hoje com uma equipe de desenvolvimento de fato, proporcionando mais agilidade no desenvolvimento e na correção de bugs, além de, com o dinheiro, Tarn poder se dedicar mais a sua família.
POSSIBILIDADES INFINITAS E GATOS MORTOS
O jogo ganhou o update visual em seu lançamento na Steam
Os desenvolvedores e fãs amam promover as possibilidades que Dwarf Fortress oferece a quem inicia uma jornada no jogo. Cada item possui um histórico, cada personagem tem gostos, temores, amigos e rivais, além de detalhes como porte físico, emoções e histórias de origem. Tudo isso sem gráficos avançados.
A frase “Perder é Divertido” é sempre proferida devido às possibilidades de coisas, boas, ruins e ainda piores, que podem acontecer com o jogador, principalmente no principal modo do jogo, onde você deve se responsabilizar pelo bem-estar de um grupo de anões que vivem em comunidade.
Nisso, tudo pode acontecer: intempéries diversas, ataques, surtos, desistências, mortes; a lista vai longe. Tudo pode estar em ordem em um instante e um verdadeiro caos no outro, por mais que o jogador se esforce para tentar consertar as coisas. Por estas razões, os fãs de Dwarf Fortress deixaram de buscar formas de atingir o sucesso no jogo e simplesmente assumiram que, em algum momento, todos os seus esforços serão em vão. E está tudo bem. Afinal, perder é divertido!
Mas, em um certo momento, as coisas pareciam estar mais caóticas do que deveriam. Um notório bug do jogo matava todos os gatos do mundo, da forma mais ébria possível.
No jogo, muitos gatos se localizam dentro de tavernas. E, em um nível de detalhe absurdo, é possível que eles se embriaguem com as poças de álcool deixadas no chão pelos anões que bebem no local. Seus pelos absorviam a bebida e, conforme eles se lambiam, tomando banho como qualquer gato faz, eles então se embebedavam.
O bug fez com que a quantidade de álcool ingerida pelos gatos fosse extremamente exagerada, resultando em mortes por coma alcoólico. Como TODOS os gatos foram afetados por esse bug, as tavernas se enchiam de pilhas de corpos de gatos bêbados. O bug, embora morbidamente hilário, deixou os desenvolvedores coçando a cabeça, sem saber o que causou isso, nem o que fazer a respeito.
Mesmo após resolvido o problema, o bug dos gatos bêbados ganhou status de lenda entre os fãs, sendo considerado até pelo desenvolvedor como seu momento favorito durante o desenvolvimento. Em entrevista, Tarn afirmou: “Um número estava errado no código de ingestão durante a limpeza, e isso os enviou por todos os sintomas de intoxicação por álcool (que adicionamos quando enfeitamos criaturas venenosas).”
COMO COMEÇAR A JOGAR?
Existe duas versões atuais do jogo: a vendida na Steam e a versão gratuita no site oficial, essa porém possui apenas o gráfico em símbolos, sem ser em pixel art
Dwarf Fortress é um jogo notoriamente difícil para quem não está familiarizado. Você não é o primeiro a se perder com o conceito extremamente aberto do jogo, e certamente não será o último.
Por esta razão, os fãs de Dwarf Fortress mantêm uma wiki especialmente para que possam consultar tudo o que necessitam para entender melhor as dinâmicas complicadas do jogo. E eles contam com uma página especialmente para quem deseja montar sua primeira fortaleza no jogo, na esperança de que ela possa durar muito mais tempo do que o habitual, sabendo que em certo ponto o jogador irá perder. E perder é divertido.
LEGADO DE DWARF FORTRESS
Apesar de só Minecraft ser o mais conhecido, jogos como Prison Architect e RimWorld tem grande inspirações na profundidade de Dwarf Fortress
O jogo está diretamente relacionado a um grande fenômeno dos games: Minecraft.
A mecânica do jogo possui claras influências do estilo roguelike de Dwarf Fortress, além de trazer elementos que remetem ao jogo, como, por exemplo, a necessidade da combinação de recursos para montar novos objetos. Em Minecraft, há uma complexidade similar à encontrada em Dwarf Fortress, porém muito, mas MUITO mais simplificada para o jogador mais casual. O desenvolvedor reconhece a importância de Minecraft para ajudar a popularizar o jogo, mencionando em entrevista ao portal Gamasutra que “Metade dos fãs do jogo vieram de lá.”
Outro jogo notório a beber da mesma fonte de Dwarf Fortress é o similarmente complicado (mas nunca tão complicado quanto o original) e similarmente detalhado (mas nunca tão detalhado quanto o original) RimWorld, obra de Tynan Sylvester, que abertamente já falou sobre sua inspiração no jogo: “Eu queria levar isso ainda mais longe - e fazer isso de uma forma acessível, sem cair em algumas das armadilhas de design que, na minha opinião, estragaram Dwarf Fortress.”
Outros jogos notoriamente inspirados em Dwarf Fortress, seja na ambientação, seja nas mecânicas, são Project Zomboid, Prison Architect, Terraria e Caves of Qud.
Dwarf Fortress permanece na sombra, com poucos jogadores notando sua presença e certamente muito menos jogadores entendendo como jogar. Mas Dwarf Fortress é um dos jogos que ajudaram a redefinir não somente o gênero roguelike, mas, de certa forma, jogos em mundo aberto e até mesmo jogos de simulação e gerenciamento. Tudo isso ensinando aos seus jogadores que pouco importa seu esforço ou conhecimento no jogo, cedo ou tarde você vai perder.
E perder é divertido.