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Os Fracassos da SEGA: Saturn e Dreamcast

A SEGA viveu um verdadeiro inferno astral entre os anos de 1995 e 2001, a abandonar o mercado de hardware. Saiba mais sobre como tudo aconteceu.

Redação Compare Games

Redação Compare Games

Os Fracassos da SEGA: Saturn e Dreamcast

Durante a primeira metade dos anos 90, a Sega viveu alguns dos seus melhores anos como fabricante de consoles e estúdio de games. O sucesso inicial do Mega Drive diante do Super Nintendo, seu grande concorrente, deu ao estúdio de Sonic e companhia um bom fluxo de dinheiro, permitindo investimentos audaciosos em novas máquinas para dominar ainda mais o mercado.

Entretanto, o que se sucedeu foi um show de horrores, envolvendo péssimas decisões de marketing, brigas internas entre o Japão e os EUA e o despreparo da empresa diante da entrada de uma nova concorrente, colocando a Sega à beira da falência.Como puderam deixar isso acontecer?

 A GUERRA DOS CONSOLES

uma imagem dividida em três, em sentido anti horário: SEGA em azul, Playstation em preto e Nintendo em vermelho

SEGA x Nintendo x PlayStation, algo que só quem viveu sabe!

Ao longo dos anos 90, a Sega manteve-se ocupada buscando minar as vendas de sua concorrente: a Nintendo. Entretanto, já em 1993, enquanto liderava as vendas entre a geração 16-bits, começaram as discussões sobre um possível sucessor ao Mega Drive. A primeira declaração pública da Sega sobre o novo console ocorreu na antiga revista Electronic Gaming Monthly.

 Um grupo de 27 engenheiros da computação passou a trabalhar no projeto que seria o novo console. O foco da equipe era trabalhar em um console que expandisse as possibilidades, ainda dentro da tecnologia 2D. Isso logo foi visto como um sinal de alerta, deixando todos se perguntando: “Por que a Sega ainda foca em jogos 2D quando já provaram com Virtua RacingVirtua Fighter de que são capazes de criar jogos em 3D?”

 No mesmo ano, foi revelado que a Sony, após uma parceria frustrada com a Nintendo, lançaria por conta própria seu console, o PlayStation. Anos antes, a Sony ganhou experiência em game design, lançando em parceria com a Sega alguns jogos para o periférico Sega CD.

Também ganhou experiência em hardware, após uma tentativa frustrada de criar em parceria com a Nintendo um periférico que também rodasse jogos por CD. Sozinha, a Sony considerou então entrar no mercado de consoles, com Ken Kutaragi assumindo a chefia do departamento responsável pelo desenvolvimento do PlayStation. Logo, decidiram que o videogame utilizaria gráficos 3D, após uma sessão de jogatina em que os engenheiros da Sony se impressionaram com a gameplay de Virtua Fighter, da Sega.

 A decisão da Sony pegou a Sega de surpresa, e seus engenheiros precisaram encontrar uma forma de inserir gráficos 3D em seu Saturn, sob o risco de parecer obsoleto diante do PlayStation. Como consequência, o Sega Saturn passou a ter múltiplos processadores gráficos, para que fosse capaz de processar tanto gráficos 2D quanto 3D. Isso fez do Saturn um dos consoles mais difíceis de programar, gerando animosidade entre os desenvolvedores, que tinham dificuldades em criar jogos a tempo do lançamento do console.

 299: O GOLPE FATAL NA E3 1995

Coletânia de fotos do evento em que revelaram o Dreamcast da SEGA em 1996

Incríveis coleções de imagens dos diversos eventos de anúncio do Dreamcast em 1998 Fonte

O primeiro Electronic Entertainment Expo da história ocorreu em 1995 e foi marcado, entre outras coisas, pelos anúncios oficiais da chegada do Saturn e do PlayStation ao mercado ocidental. 

Os dois consoles passaram a ser vendidos no Japão no final de 1994 e possuíam números modestos de venda. O Saturn teve boas vendas no Japão, graças a uma extensa campanha de marketing estrelada por Segata Sanshiro, interpretado pelo ator de Kamen Rider e considerado o "Chuck Norris japonês", Hiroshi Fujioka. Entretanto, o verdadeiro termômetro para saber qual console seria a grande sensação mundial viria do lançamento nos Estados Unidos.

 A Sega, preocupada em perder mercado com a entrada da Sony, resolveu adiantar o lançamento do Sega Saturn, previsto para setembro, em plena E3, em maio daquele ano. Sem avisar ninguém, nem os lojistas, que mal tinham o Saturn no estoque, nem os estúdios, que desenvolviam jogos previstos para o final do ano, a Sega lançou o Saturn ali mesmo, na E3. Essa decisão enfureceu a todos, e o pesadelo estava longe de acabar.

 Sem lojas para vender, sem jogos o bastante para atrair o consumidor, a Sega ainda anunciou o console com preço inicial de 399 dólares. 824.17 dólares corrigindo o valor na inflação atual, 4564,09 Reais na cotação atual. Comparado ao PlayStation 5 Pro pode não parecer uma fortuna, mas no Brasil, o salário mínimo em 1995 era de 100 Reais.

 A Sony fez a festa na E3. Primeiramente, pediu paciência aos jogadores, garantindo que o PlayStation sairia apenas no final do ano, mas com toda a biblioteca de jogos prometida. E ao anunciarem o preço do aparelho, o responsável pelo PlayStation nos Estados Unidos, Steve Race, subiu ao palco e disse: 299.

 Ao som de aplausos, o preço do PlayStation, 100 dólares a menos que seu concorrente, acabou com qualquer chance que o Saturn teria de manter os jogadores ao seu lado. A grande maioria dos jogadores escolheu esperar, ignorando o Saturn para, nas compras de Natal, garantir seu PlayStation.

 NÃO É NOSSO FUTURO

Imagem de Bernie Stolar ao centro, segurando um controle de Dreamcast e seu VMU com a frase

Bernie Stolar com sua frase famosa que marcou a morte do Saturn em 1997

Os próximos anos foram de choro e tristeza para a Sega. Muitos estúdios abandonaram o Saturn, com uma grande lista de jogos cancelados ainda nos primeiros anos do console. Dos grandes estúdios, apenas a EA Sports, Konami e a Capcom lançaram jogos para o console, ainda assim, dando uma maior preferência ao PlayStation quando se tratava de seus grandes sucessos. Castlevania: Symphony of the Night, por exemplo, apenas recebeu uma versão para Saturn no Japão. Já Metal Gear Solid foi exclusivo de PlayStation.

O console ficou marcado pela ausência de grandes RPGs e alguns dos jogos 2D mais populares do mercado nos EUA, com muitos sendo lançados só no Japão, e principalmente pelas brigas entre Sega da América e Sega do Japão, que culminariam no cancelamento do que seria o grande exclusivo de Sonic no console: Sonic X-Treme.

Entre jogos memoráveis do Saturn estão Nights Into Dreams, a série Panzer DragoonShining Force 3, Sonic R, Guardian HeroesBurning Rangers. Além disso, muitos fãs consideram as adaptações de jogos de fliperama, como X-Men vs Street Fighter, X-Men: Children of the AtomDarkstalkersStreet Fighter Alpha 3, como os melhores daquela geração.

A campanha de marketing da Sega, antes eficaz em atrair clientes nos EUA, passou a ser uma grande piada, tentando posicionar o console como superior ao PlayStation e ao Nintendo 64, lançado em 1996, mas sem convencer ninguém.

 Ainda em 1997, a própria Sega abandonou qualquer esforço para fazer o Saturn decolar, quando o chefe da Sega da América na época, Bernie Stolar, admitiu que um novo console estava em desenvolvimento e proferiu a infame frase: "O Sega Saturn não é nosso futuro".

DREAMCAST: A ÚLTIMA CARTADA

Imagem de um Dreamcast à esquerda, com a capa de quatro jogos à direita, começando em cima, em sentido anti-horário: Sonic Adventure 2, Soul Calibur, Resident Evil Code: Veronica e Crazy taxi

Dreamcast e Quatro dos jogos mais marcantes do console!

A Sega, às pressas, investiu pesado no desenvolvimento do Dreamcast, diante do fracasso do Saturn e dos prejuízos cada vez maiores para a empresa. Em um intervalo de poucos anos, toda a empresa se mobilizou para consertar todos os aspectos que fizeram o Saturn dar errado, além de trazer elementos pioneiros em um console.

 O projeto Katana, como o Dreamcast era chamado, contava com um modem destacável, o que permitia fácil acesso à internet. Além disso, o desenvolvimento de jogos era facilitado pela presença do sistema operacional Windows CE, fruto da parceria entre Sega e Microsoft, que permitia aos desenvolvedores a possibilidade de utilizar a tecnologia DirectX.

 O desenvolvimento contou com tecnologias de ponta e com os esforços de toda a empresa. Em 1998, o Dreamcast foi lançado no Japão com uma campanha modesta, em que a Sega se vendia como uma empresa modesta, humilde e pé no chão, como quem quisesse vender o console de porta em porta e admitindo que falhou perante o PlayStation.

 Já nos Estados Unidos e no restante do Ocidente, o console foi lançado com grande pompa, com forte presença da Sega em grandes eventos e a venda do console como o Davi, diante da Sony, o Golias. O Dreamcast era o garoto popular da escola.

 A aposta era arriscada, mas nos primeiros anos a Sega parecia estar no caminho certo, aproximando-se do PlayStation em número de vendas no ano de 1999. Mas ainda não era o suficiente.

Mesmo com grandes jogos como Sonic Adventure, Phantasy Star Online, Jet Set Radio, Soul Calibur, Skies of Arcadia, Marvel vs Capcom 2, Crazy Taxi e Space Channel 5, o console ainda não conseguia se firmar como líder absoluto do mercado. As vendas permaneciam baixas, não apenas devido à concorrência forte do PlayStation e do Nintendo 64, mas também por uma certa desconfiança dos jogadores, ainda desiludidos com o Saturn.

 A situação se agravou quando a Sony lançou o PlayStation 2 em 2000. Apesar de um lançamento turbulento no início, o novo console da Sony foi um verdadeiro arrasa-quarteirão, deixando o Dreamcast no esquecimento.

 O desbloqueio do Dreamcast, permitindo que a pirataria reinasse entre os donos do console, também afundou as vendas dos jogos originais, um dos pilares da renda do videogame. Uma matéria da Wired de 2000 relatou as ações de um grupo de pirataria, que conseguiu burlar a proteção de dados das mídias usadas no Dreamcast: GD-Roms. Sem ter como reverter o prejuízo, a Sega entrou em modo de sobrevivência.

 Ao mesmo tempo que lançava clássicos como Sonic Adventure 2 Space Channel 5, a Sega já anunciava a saída do mercado de consoles, com seus estúdios se voltando para a produção de games para PlayStation 2, GameCube e Xbox, lançado em 2001.

FIM DA LINHA?

Imagem de um Dreamcast em preto e branco à esquerda, logo do Xbox à direita com um ponto de interrogação ao lado direito

Dreamcast vive no Xbox, assim como vários jogos da Sega

Nos anos seguintes, a Sega firmou uma parceria com a Microsoft, lançando alguns de seus jogos, antes previstos para o Dreamcast, no novíssimo Xbox. No entanto, a Sega permaneceu em situação delicada e precisava de um milagre para se manter viva. Algumas de suas dívidas foram perdoadas por Isao Okawa, antigo executivo da CSK, empresa então dona da Sega, que também doou o dinheiro oriundo das ações da empresa para salvá-la da falência.

 A Sega se fundiu com a Sammy Corporation, uma empresa especializada em pachinkos, em 2003, garantindo assim o futuro da companhia. O caminho foi árduo para a Sega recuperar o prestígio perdido nos anos de fracasso com o Saturn e o Dreamcast, mas hoje ela pode se orgulhar de estar novamente entre os grandes estúdios do mundo.

 Em 2023, a Sega anunciou um grande plano para ressuscitar algumas de suas franquias, paradas desde o Xbox clássico. Além disso, Sonic voltou a ser um mascote respeitado pelo público, com o grande sucesso de Sonic Frontiers e a recepção modesta, mas positiva, de Sonic Origins e Sonic Superstars, além do fenômeno de seus filmes, com o terceiro a ser lançado no Natal deste ano.

 Além de Sonic, a Sega também conta com as séries Yakuza, Football Manager, Total War, Two Point Hospital e Two Point Campus, e com o sucesso do estúdio Atlus, criador de Shin Megami Tensei, Persona e Puyo Puyo. A Sega também adquiriu o estúdio Rovio e se tornou dona da série Angry Birds.

Há quem defenda que a Sega tem totais condições de retornar ao mercado de consoles, argumentando que diante de decisões questionáveis e jogos pouco impressionantes da concorrência, a excentricidade que só se encontrava em jogos como os da Sega podem fazer a diferença na hora de escolher um console autêntico. Um novo console da companhia poderia dar um ar de novidade a indústria, ao mesmo tempo que recuperaria o terreno perdido em 2001.

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