A Atlus é um nome muito popular entre os fãs de RPG japonês, conhecida por criar histórias complexas, sistemas de batalha inovadores e personagens marcantes. Ao longo dos seus 38 anos, a empresa construiu uma sólida base de fãs que valoriza tanto a profundidade narrativa quanto a estética única de seus jogos.
Desde o surgimento de franquias como Shin Megami Tensei até o fenômeno global Persona, a Atlus soube se destacar no mercado. Mais recentemente, com o lançamento do Metaphor ReFantazio, a marca reafirma seu compromisso em inovar dentro do gênero de RPG, mantendo sua reputação como uma das empresas mais criativas no setor.
Uma história de paixão e dedicação aos RPGs
Fundada em 1986, a Atlus começou como uma desenvolvedora pequena no Japão, focando em jogos que se diferenciavam dos títulos convencionais de ação e plataforma populares na época.
No começo, a empresa colaborava com outras editoras, mas logo começou a lançar títulos próprios, criando uma identidade que se destacava por seu toque sombrio, mistério e temas filosóficos e religiosos incomuns para o mercado.
O lançamento de Shin Megami Tensei no início dos anos 90 consolidou a Atlus como uma referência em RPGs que exploravam temas como moralidade, espiritualidade e questões existenciais.
Evolução do desenvolvimento e vendas
Nos primeiros anos, a Atlus trabalhou em títulos que ainda apresentavam o que seria sua identidade definitiva. O game Digital Devil Story: Megami Tensei, de 1987, foi um dos primeiros a apresentar as bases da futura série Shin Megami Tensei. Este título introduziu um sistema de fusão de demônios, que se tornou uma marca registrada da franquia.
Apesar de não alcançar um grande sucesso comercial na época, a Atlus continuou desenvolvendo a série com novas edições, refinando a narrativa e o sistema de combate. Foi somente em 1992, com o lançamento de Shin Megami Tensei, para o Super Famicom, que a série encontrou seu público, conquistando fãs e garantindo vendas sólidas.
Com o tempo, a empresa ampliou seu portfólio, explorando diferentes estilos de jogos e adaptando seu foco para incluir temas juvenis e dilemas emocionais. O desenvolvimento inicial focava em mecânicas de jogabilidade e narrativa complexas, diferenciando a marca dos RPGs tradicionais, e isso começou a ganhar atenção fora do Japão.
A Arte de Kazuma Kaneko
A arte marcante dos jogos da Atlus em grande parte é devido aos grandes trabalhos de Kazuma Kaneko
Kazuma Kaneko, artista e designer, é uma figura muito importante para a identidade visual da Atlus. Conhecido por seu estilo sombrio e único, Kaneko desenhou muitos dos personagens e demônios para as séries Shin Megami Tensei e Persona.
Sua arte foi fundamental para criar o universo visual característico da Atlus, marcado por traços realistas e criaturas fantásticas que dialogavam com temas mitológicos e religiosos. Kaneko trouxe um estilo estético com cores fortes e traços que flertavam entre o surreal e o místico, o que fez com que a arte da empresa se destacasse entre os RPGs da época.
A influência de Kaneko se expandiu até para jogos e franquias fora da Atlus, como o convite para desenhar personagens em Devil May Cry 3, da Capcom, por exemplo.
Expansão e Parcerias Internacionais
Nos anos 2000, a Atlus entrou em uma fase de expansão que se traduziu em um alcance global maior. A criação de subsidiárias nos Estados Unidos e em Cingapura ajudou a distribuir seus jogos para o mercado ocidental, fazendo com que suas franquias ganhassem popularidade fora do Japão.
Nessa época, a Atlus também entrou para a Bolsa de Valores de Tóquio, impulsionando seu desenvolvimento e ajudando financeiramente para crescer ainda mais. A parceria com a Kadokawa Shoten permitiu que a Atlus expandisse seus canais de distribuição e venda, alcançando novos públicos.
Durante esse período, houve uma mudança de liderança: Matsuo Iwata deixou o cargo de presidente, que foi assumido por Nobuyuki Okude. Com essas mudanças e parcerias, a Atlus começou a se consolidar não só como uma empresa de sucesso no Japão, mas também como um nome respeitado internacionalmente.
SEGA e novos rumos para a Atlus
Em 2013, a SEGA comprou a Atlus, oferecendo à empresa uma estabilidade financeira e novos recursos para desenvolvimento. Esse investimento foi importante para a expansão da franquia Persona, que estava ganhando popularidade global.
Com a SEGA como proprietária, a Atlus teve mais liberdade para explorar novas ideias, mantendo sua essência e autonomia criativa. A aquisição também possibilitou o lançamento de jogos em plataformas modernas, expandindo o alcance para novos públicos e tornando suas franquias mais acessíveis.
O marco Persona 5 no RPG japonês
Persona 5, lançado em 2016, foi um divisor de águas para a Atlus. O jogo não apenas elevou a franquia Persona a um novo patamar, mas também se tornou um ícone cultural dentro do gênero de RPG japonês.
O enredo envolvente, os personagens complexos e o visual estilizado do game foram aclamados pela crítica e pelos jogadores ao redor do mundo. O sucesso do jogo garantiu à empresa inúmeros prêmios e vendas, solidificando sua posição como uma das principais desenvolvedoras de RPG.
O jogo conseguiu se conectar com o público com seus temas atuais e mais profundos, que vão desde o senso de justiça até as pressões sociais enfrentadas pela juventude moderna. Persona 5 não só vendeu mais de 10 milhões de cópias como gerou uma série de produtos derivados, incluindo séries de anime, figurinos e até colaborações com outras franquias.
Metaphor ReFantazio: O novo legado da Atlus
O lançamento de Metaphor ReFantazio marca uma nova fase para a Atlus, trazendo um RPG que mescla a profundidade narrativa e a estética única, características clássicas da empresa, com uma abordagem inovadora para o gênero.
Desta vez, a Atlus aposta em um universo de alta fantasia, distanciando das paisagens urbanas modernas de seus RPGs anteriores e explorando um mundo onde magia, monstros e humanoides coexistem em meio a questões sociais e políticas complexas.
Disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X e S e PC, o game já desponta como um dos lançamentos mais impactantes do ano, destacando-se tanto pelo seu estilo de combate quanto pela narrativa envolvente e profunda.
Riqueza cultural e crítica social
Ambientado em Euchronia, um mundo habitado por raças fantásticas, Metaphor surpreende com sua profundidade cultural e social. Entre os habitantes, estão os roussiants, seres semelhantes a elfos com orelhas peludas, e os eugiefs, ágeis roedores bípedes com asas de morcego.
O protagonista pertence à raça elda, que, assim como as demais, exerce um papel fundamental na complexa hierarquia social e política de Euchronia. Esse contexto racial enriquece a narrativa ao introduzir temas como racismo e preconceito, em sintonia com a tradição da Atlus de incorporar discussões profundas sobre questões sociais contemporâneas em seus RPGs.
A Atlus aproveita esse universo para abordar criticamente temas como desigualdade social, militarismo, intolerância religiosa e padrões de beleza. Essas metáforas políticas podem ser observadas tanto nas missões principais quanto nas secundárias, proporcionando ao jogador uma experiência em que os desafios da fantasia refletem dilemas do mundo real.
Combate e dinâmica de turnos
No game, o jogador pode optar por enfrentar os inimigos diretamente e, contra adversários mais poderosos, pode começar o confronto com vantagem, atordoando eles e garantindo um dano inicial elevado.
A mecânica de combate exige atenção redobrada, especialmente nas batalhas mais desafiadoras, onde o uso estratégico dos pontos e a exploração das fraquezas dos inimigos são cruciais para o progresso no jogo.
Um dos grandes destaques são os arquétipos, que remetem às personas da franquia Persona, mas com uma diferença: aqui, eles se alinham a classes típicas de um RPG medieval. O protagonista, por exemplo, possui o arquétipo de Seeker, especializado em ataques com espada e magias de vento, enquanto outros personagens apresentam arquétipos como Cavaleiro e Dançarina Mascarada, cada um trazendo habilidades únicas que diversificam o estilo de combate.
No fim das contas, o lançamento do game consolida a Atlus como um dos estúdios mais importantes de RPG do mundo, não só pelo legado conquistado com Persona, mas também por sua capacidade de inovar e reimaginar o gênero.