O jogo de 1992 possui um legado invejado por muitas franquias, sendo o responsável pela popularização dos jogos de luta e pela definição de como um jogo do gênero deve ser.
Entre os fãs de jogos de luta, há um consenso: Existe um mundo dos games antes e um mundo depois de Street Fighter II. Antes de Street Fighter, os jogos de luta eram similares a sucessos do arcade como Yie Ar Kung Fu, pioneiro do gênero, Karate Champ, Way of the Exploding Fist e Urban Champion.
Por diversos fatores, Street Fighter II foi revolucionário para o gênero luta e se tornou um marco para os jogos em geral. Mas afinal, o que tornou Street Fighter II tão importante para o mundo dos games? Trouxemos para você algumas respostas.
STREET FIGHTER II QUASE SE TORNOU FINAL FIGHT
Em uma entrevista de 1991, o diretor de Street Fighter 2 Akira Nishitani revelou que originalmente, o projeto era para um beat-em-up. O jogo veio a se tornar Final Fight, outro clássico da Capcom:
“Final Fight seria, na verdade, Street Fighter 2. Eu estava trabalhando diligentemente nos planos de design para outro jogo, mas a Capcom me disse que precisávamos fazer algo com menos memória (o preço da ROM tinha acabado de subir, eles disseram), e eles me ordenaram que fizesse um jogo de luta típico beat-em-up. Foi assim que comecei no Final Fight, e como nosso jogo Street Fighter já tinha algum valor de nome, pensei em usar esse título”.
O projeto não acabou dando certo inicialmente, e o jogo que inicialmente se chamava Street Fighter 89 foi rebatizado para Final Fight. Logo após o lançamento deste arcade, os executivos da Capcom pediram por um novo jogo de luta, desta vez, uma sequência oficial de Street Fighter.
NOVAS IDEIAS PARA A SEQUÊNCIA
Estando livre do gênero beat-em-up, Nishitani se viu na vontade de inovar em seu próximo jogo, mas os executivos limitaram o escopo do projeto, pedindo somente algo que fosse uma sequência ao primeiro Street Fighter: “Eles não queriam que eu mudasse os elementos básicos do jogo. “Pfh, adultos. Tudo o que eles querem saber é lucrar... espera, eu não sou um adulto também?” “
Tendo que trabalhar com base no primeiro Street Fighter, alguns elementos da sequência foram diretamente herdados do primeiro, pioneiro em utilizar um direcional de 8 pontos e 6 botões especializados em golpes fracos, médios e fortes, para socos e chutes.
O designer Takashi Nishiyama trabalhou no primeiro Street Fighter e foi o responsável pela adição dos 6 botões:
“Expliquei que os três botões de cima controlavam socos e os três de baixo eram chutes, então parecia natural para os jogadores executarem movimentos especiais combinando-os -- pelo menos era o que eu pensava. Mas como todos os seis eram botões de ataque, e os jogadores atacariam não importando qual botão apertassem, isso ajudou a convencê-los de que ter mais botões não tornaria o jogo excessivamente complicado “.
OS WORLD WARRIORS
Logo no início do projeto ficou definido que pela primeira vez em um jogo de luta, o jogador poderia escolher o personagem. Nishitani os criou em parceria com Akira Yasuda, que relatou o quão livres eram para definirem os personagens e suas principais habilidades:
“Os personagens para Street Fighter 2 foram verificados por três pessoas: eu, Nishitani e outro desenvolvedor. Nós analisávamos os movimentos um por um e os aprovávamos. Havia uma regra tácita pela qual operamos, onde “Não era bom até nos fazer rir”.
A tática mostrou ser bem-sucedida, conforme os desenvolvedores pegavam os personagens e os tornavam mais e mais excêntricos, contribuindo para o plantel colorido e cheio de personalidade de Street Fighter 2. Não era apenas importante que os personagens fossem distintos uns dos outros, mas também precisavam de equilíbrio para que o jogo fosse balanceado.
TRILHA SONORA
Yoko Shimomura foi a compositora responsável por grande parte das trilhas sonoras do jogo, sendo a criadora das icônicas músicas temas de Ryu, Ken, e a que talvez seja a mais popular de todas as músicas tema do jogo: Guile, famosa na internet por combinar com tudo. Era o primeiro passo dado pela compositora que viria a ser conhecida como uma das melhores da indústria.
O segredo para o jogo ter uma trilha tão diversa foi que Yoko não pensou nos personagens, mas sim, em seus países de origem ao compor as canções. Ela lembrou do processo de produção das músicas em uma entrevista dada para a Red Bull:
“Por exemplo, para a Índia eu não faria música indiana de verdade, mas faria o que eu imaginasse que a música indiana fosse. Quando eu sugeri que fazer algum tipo de world music com um gosto cômico poderia ser engraçado, eles disseram que estava tudo bem, e nós fomos com isso. Para a música quando você tinha ⅓ da sua energia restante e estava lutando, eu sugeri fazer a música mais rápida e mais desesperada”.
COMBO: DESCOBERTA POR ACIDENTE
Um fator importantíssimo para o sucesso de Street Fighter 2 foi a criação dos combos, que logo se tornaria um padrão extremamente importante para todo o gênero de luta. O mais impressionante é que o combo em teoria sequer deveria existir, tendo sido um bug encontrado no jogo.
Ao longo do processo de desenvolvimento, a equipe descobriu um erro que acontecia quando um adversário sofria um golpe do jogador. Ao invés de voltar a lutar, ele permanecia por um tempo extra em um estado de tontura, permitindo que o jogador encaixasse mais e mais golpes em sequência.
Motohide Eshiro confirmou em entrevista que o bug surgiu enquanto buscavam soluções para facilitar a execução de alguns golpes:
“E como um efeito colateral disso — então eu acho que se você quisesse chamar isso de bug, você poderia, mas na verdade era um efeito colateral de dar às pessoas mais tempo para apertar o botão — os jogadores podiam executar combos. Então se você estivesse dando um chute agachado segurando para baixo, e então apertasse para a direita e socasse enquanto seu personagem estivesse fazendo essa animação, você poderia conectar esses dois juntos. Não foi intencional deixar os jogadores combinarem movimentos em combos, mas não foi um bug, pois foi planejado para tornar mais fácil fazer seus movimentos especiais”.
O IMPACTO DE STREET FIGHTER 2 NA INDÚSTRIA
Superados os desafios quanto ao polimento do que deu errado no primeiro jogo, na adição de novos personagens, novas músicas e na descoberta dos combos, Street Fighter 2 foi colocado à venda em 1992. O jogo foi muito requisitado por casas de fliperamas por todo o mundo, e se tornou um gigantesco fenômeno, enquanto todos da equipe que se envolveram no projeto se tornavam grandes nomes na indústria japonesa de games.
Inúmeros imitadores, concorrentes e adversários surgiram logo após o lançamento de Street Fighter: do Japão, Fatal Fury e The King of Fighters foram as respostas da SNK para o sucesso de Street Fighter 2. A Sega e a Namco deram um passo para o 3D com Virtua Fighter e Tekken, enquanto a Nintendo encomendou da britânica Rareware o jogo Killer Instinct. Nos Estados Unidos, a Midway trouxe Mortal Kombat, com animações baseadas em fotografias, com atores e dublês reais.
Todos estes jogos, entretanto, utilizaram-se das inovações trazidas por Street Fighter 2. Todos tinham personagens diversos e uma preocupação com o balanceamento entre os personagens. Todos tinham sistemas de combos, tirando uma lasca da descoberta acidental de Street Fighter 2. Todos tinham botões dedicados a socos e chutes, assim como Street Fighter 2.
O tamanho do legado de Street Fighter 2 é inestimável. Até os dias atuais, o grande desafio de desenvolvedores que se aventuram na programação de jogos de luta, buscar de algum jeito emular, ou se rebelar dos padrões que foram instituídos por Street Fighter 2. O jogo se tornou uma espécie de template para a indústria dos jogos de luta.
O jogo foi levado para diversos consoles, sendo o mais excêntrico de todos o Master System, graças a audácia de uma grande empresa de games brasileira. Street Fighter 2 é um dos jogos de luta mais queridos até os dias de hoje, sendo que a última versão oficial do jogo saiu para Switch, em 2016.
O sucesso do jogo é tão grande, que a pirataria do hardware original foi gigantesca. Causando efeito contrário, entretanto, os gabinetes ilegais aumentaram ainda mais a popularidade de Street Fighter 2.
Grandes eventos que promovem torneios de videogame surgiram, principalmente ao redor dos jogos de luta. A franquia Street Fighter está diretamente envolvida com o momento mais marcante na história do Street Fighter no maior campeonato de jogos de luta, EVO (Evolution). Nunca existiu nada como Street Fighter 2 antes. Talvez nunca exista outro como ele outra vez.