Quando se trata de uma indústria da escala global, é natural a expansão descontrolada e diversos grandes investimentos que chamam a atenção. Agora, se for possível, conseguir tirar a sua “fatia de bolo” com o mínimo esforço e um pouco de desvio ético, quem não faria? Se você disse que não, bem, diversos fazem.
Com o alto fluxo de jogos adicionados diariamente nas plataformas digitais, como na Steam por exemplo, que segundo Kotaku cerca de 50 por cada dia de 2023, é possível imaginar o quanto desses são de qualidade duvidosa.
Porém, não é só a Steam que sofre com isso: App Store, Google Play Store, Nintendo Switch Eshop, Playstation Store e até mesmo a Microsoft Store possuem diversos jogos que acabam passando por debaixo dos panos para ver se conseguem fazer dinheiro.
É conhecido que o desenvolvimento de jogos é um trabalho árduo e que pode demorar anos para a produção, como casos de jogos de sucesso gigantescos como Red Dead Redemption 2 e Cyberpunk 2077, e às vezes podem possuir diversos problemas. Mas e quando a intenção é ser ruim, ou simplesmente esconder que é ruim tempo o suficiente para gerar lucro?
Shovelware: de 1990 até os dias de hoje
Quem nos anos 2000 não teve um CD da Digeratti com centenas de jogos? Agora os Shovelwares invadiram a Play Store e a App Store.
Shovelware é um termo cunhado nos anos de 1990 quando todo mundo percebeu que o “ciberespaço” era um caminho para gerar dinheiro. Então, repetidos clones de aplicativos eram criados. CD-ROM que eram comercializados com centenas de programas e jogos, levaram ao termo que junta a palavra “shovel” pá em português, com software, e portanto representando esses programas e jogos que eram entregues com muita quantidade e com baixo controle de qualidade, que você precisaria de uma pá para retirá-los aos montes e jogá-los fora.
O que acontece é que com a popularização de sharewares, malwares e antivírus, as pessoas começaram a tomar mais cuidado com que tipo de programas instalariam, e de certa forma o impacto desses programas de qualidade duvidosa acabavam sendo esquecidos. Com o avanço da internet, com a possibilidade de conversar e discutir a qualidade dos produtos online, se consolidou uma consciência de quais são bons e ruins, reduzindo ainda mais esse fator.
Porém, com sistemas mobiles e as criações de lojas virtuais, o que aconteceu foi o retorno massivo de aplicativos e jogos com essas mesmas características, que por mais que se mantinham em quantidades reduzidas durante os anos de 2000 à 2010, voltaram a subir com os smartphones.
Isso ocorreu por conta da corrida de aplicativos, com a Play Store e App Store, ou outras lojas de aplicativos convenientes ou de ambiente fechado, como no caso da Apple, que força você somente a comprar e usar aplicativos de sua loja proprietária.
Com o avanço tecnológico, se tornou relativamente fácil encontrar pedaços de códigos de programas para construir o seu próprio, e assim diversas empresas começaram a lançar em grandes quantidades aplicativos de baixa qualidade.
O desenvolvimento do marketing e tráfego pago na internet, fez com que o mercado de aplicativos começou a englobar isso, junto com microtransações, afinal se você ganhar 1 centavo de dólar por pessoa que ver propagandas no seu aplicativo, e for possível manter um fluxo de 10 mil usuários por dia, você lucraria 100$ por dia, com investimento virtualmente nulo, e caso a pessoa não queria assistir ela pode pagar 5$ para comprar o aplicativo.
Essas técnicas são usadas até o dia de hoje, tanto por aplicativos bons quanto ruins, mas principalmente pelos de baixa qualidade. E assim existem os novos Shovelwares, que invadem as lojas das grandes empresas que não dão conta de moderar seus conteúdos, e pemitem que sejam comercializados, por pessoas que acabam por nem perceber sua verdadeira intenção.
Um exemplo de uma brincadeira para trazer mais conhecimento sobre esse fato foi o caso reportado por Tom’s Hardware, sobre o jogo Stroke the Animals em que você compra ele e tem o incrível gameplay de apertar repetidamente os botões do seu controle para fazer carinho nos bixinhos na tela. O sucesso do jogo se tornou viral, gerando 240 mil dólares de receita. Nesse caso, o jogo mesmo se dizia um shovelware e acabou por tornar-se viral e um grande meme.
Asset Flip: Comum na Steam e invadiram os celulares
Only up foi um dos jogos controversos por usar vários modelos roubados de artistas, o que levou o jogo a ser removido da Steam e atualizado diversas vezes. Além disso, ficou conhecido como "isca de streamer" e se tornou popular no YouTube e Twitch.
Quando um jogo é desenvolvido, existem diversos pontos a serem desenvolvidos, um deles é o código do programa que faz o jogo ser possível, e a outra parte visual, é o que será colocado na tela, como os personagens, menus, cenários, inimigos, objetos entre outros. Cada uma desses objetos que foram os jogos são chamados de Assets em inglês.
A ideia por trás de um “asset flip” é que você desenvolve, ou copia um jogo que tenha seu código aberto disponível gratuitamente na internet, rouba, compra ou cria novos assets, e coloca nesse novo jogo, sendo o esqueleto de um, com as entranhas de outro. Com isso, o custo de desenvolvimento, se não nulo, é bem baixo, e pode se passar como um projeto de “iniciante”. Assim, o desenvolvedor em questão cobra pelo jogo, e quem ele conseguir enganar para comprar, ou jogar e gastar tempo vendo propagandas que também geram lucro para o criador, acaba sendo beneficiado através de algo que se aproveita de furos no sistema.
Normalmente é fácil encontrar assets flips e perceber o que são, o caso mais clássico, principalmente nos mobiles, são as cópias de GTA ou de PUBG. Nesses casos, o que acontece é que pessoas, e principalmente crianças entediadas com smartphones, acabam por instala-los para jogar por alguns minutos, gerar uma renda para o criador e depois desinstalar ao perceber que não é o que eles esperavam.
Por mais que o sistema de qualificação por estrelas nas lojas ajudem, a maioria das pessoas fazem votos positivos para ganhar prêmios no jogo, ou então simplesmente ignoram. Ainda assim, as donas dessas lojas, como a própria Steam costuma a tentar tirar o máximo de jogos possíveis.
Outro fato mais recente que acontece, é que pessoas começaram a intencionalmente fazer jogos engraçados em formato de asset flips com o interesse de serem jogados por grandes youtubers, já que virou um subgênero popular na plataforma.
O questionamento também cai sobre o que é realmente um shovelware ou asset flip, e se todos devem ser apagados, já que as vezes um projeto de um estudante, ou um primeiro jogo de um adolescente entusiasmado pode ser de baixa qualidade, mas as vezes é um jeito de aprender e também receber algo por seu jogo, se for o desejo do desenvolvedor.